© Copyright. Direitos autoriais.

© Copyright. Direitos autoriais

Vaamonde

Este escrito pretende dar uma outra visão dos topónimos da família de Vaamonde, tidos por germânicos nos estudos da toponímia galega.

Vaamonde ou Baamonde com estas e outra ortografias (Bahhamonde, Bamonde ....) é nome de diferentes lugares na antiga Galécia, também em apelido, sobrenome de pessoas.
A etimologia "clássica" galega, acha os lugares de nome Vaamonde derivados de um possuidor de nome Badamundus, registado este nome de pessoa, alcume ou apelido, nos escritos medievais.
Inferindo-se que Vaamonde derivaria do genitivo de Badamundus, *Badamundi, e de Badamundi nasceriam os atuais Vaamondes.
O nome de Badamundus é explicado desde a etimologia germanista como composto de Bada- com o significado de batalha e -mundus com o significado de "protetor, mão."
(Mais sobre esta etimologia de Badamundus no pé deste escrito).

Um estudo pormenorizado de lugares na Galiza chamados Mundim abre uma porta a interpretar, descodificar, Vaamonde desde outra perspetiva que não a germânica.
Mundim é considerado também um topónimo derivado de um possuidor de nome Mundinus, mas revela-se como pertencente uma palavra anterior ao estrato germânico, com parentesm proto-indo-europeus.
Determinando-se que um mundim é um grande curro, um prado ou lugar murado e com caminho perimetral para guardar gando:

Mundim de Rio-Torto.
No estudo anterior referenciado podem ser vistas moitas mais fotografias de lugares chamados Mundim, e em todas elas o lugar tem esta estrutura de curro afunilado, que serve para melhor maneio de grandes rebanhos de animais.
O curro afunilado ajuda a que os animais percebam por onde é a saída e permite fluírem a grande número deles sem se amorearem.



Esta image é de Vilamunde de Vilar-Maior.
Pode ser vista a estrutura que é identificada como um grande curro, e na boca de entrada do tal curro, a aldeia de Vilamude.
Vilamunde que a etimolgia "clássica" percebe como a vila de um possuidor de nome Mundinus, registada na época medieval como uilla Mundini. E que poderia ser entendida como a vila do Mundim, antes do que como a vila de Mundinus.

No hindi मुण्ड  (
muṇḍa) abre a porta a percebermos de onde nasce Mundim etimologicamente, pois मुण्ड  (muṇḍa) significa:
गायों का समूह या मंडल
"Vacas em grupo ou círculo / vacas ou grupo de vacas".
Assim é para refletir que o radical -mund- dando nome ao "rebanho de vacas, ou ao círculo ( do rebanho) da vacas", é coerente com os significados desta raiz -mund- no latim, nas línguas germânicas, no hindu e sânscrito, e do galego "manda de sardinhas" e da toponímia galaica do radical -mund- / -mond-...

No site http://toponimia.xunta.es/gl/Buscador podemos dar com lugares, aldeias ou terreos, chamados de Vaamonde e formas semelhantes, por razões que logo serão vistas grafei todos com vê, Vaamonde:
Muinho de Vaamonde em Bravío (Betanços).
Vaamonde (Begonte).
Vaamonde no Burgo (Muras).

Vaamonde em Coucieiro (Paderne de Alhariz).
Vaamonde em Ferreira (São Sadurninho).
A Casa Vaamonde (Sárria).
Vaamonde em Paradela (Toques).
Vaamonde em Fumazes e a Tepa (Riós).
Vaamonde em São Vicenço (Vilasantar).
Estes lugares vão continuação em fotografia aérea:


Vaamonde de Ferreira (São Sadurninho), são uns terreos à beira do rio e no que semelha a boca de um *mond- / *mund-.

Vaamonde de São Vicenço (VilaSantar). É uma aldeia que tivo um grande suposto curro, e dentro do que aquilo foi corre um regatinho ainda nascente.
Vaamonde de Paradela (Toques). Ao pé do rio das Cancelas
Vaamonde de Couceiro (Paderne de Alhariz). Pode ser visto o curro em forma de bágua com o seu couce redondeado ao pé da aldeia e a sua ponta ao leste, na beira do rio Cerdeirinho.

O Moinho de Vaamonde em Bravio (Betanços) é uma aldeia na beira do Mendo. Seria de supor que uma pessoa apelidada de Vaamonde tinha aí um moinho. Mas a imagem do curro afunilado a carão do rio aparece também como noutros lugares de nome Vaamonde.

Imagem de Sárria, do núcleo antigo onde está a chamada "Casa (de) Vaamonde", hoje casa do concelho.Esta casa foi da família Vaamonde ou Baamonde.
Mas a família Vaamonde deu nome à casa e ao lugar?, ou foi à inversa?
Não faz falta muita imaginação para observarmos que a estrutura urbana da zona onde está a casa de Vaamonde, ainda conserva o desenho do curro afunilado que podemos ver nas fotos anteriores.
Dá para comparar com outro lugar onde um paço ocupou um -mnd-, Mende em Vilasantar, onde a propriedade dum paço re-estruturou parcialmente a estrutura do antigo curro, reduzindo-lhe o couce e partindo-lhe a ponta, como pode ser intuído no Vaamonde de Sárria:




Outro paço dentro de uma estrutura semelhante, neste caso a casa da família Bahamonde no Cucheiro de Sedes (Narom):




Outro Vaamonde:




Baamonde / Vaamonde (Begonte), talvez o lugar mais conhecido.
Dificilmente é identificada a *-mond-, ainda que é possível ver a sua partição.
De interesse confrontar a imagem da zona à beira do rio Parga de Vaamonde, onde estaria hipoteticamente o curro *-mond-, com a imagem de Gueimonde das Granhas do Sor (Manahom) mais abaixo, que levaria a pensar que seria possível que a *-mond- tivesse sido repartida, ao desaparecer o sistema de uso da terra antigo?, ao aparecer a ideia de propriedade individual?, ao ser também dividido o rebanho comum?
A *monde junto com o comunal foram repartidos em pequenas parcelas privadas?
Dá para lucubrar, dá.
Do mesmo jeito que o monte comunal era partido em belgas para ser semeado, os lameiros, sobretudo os das veigas, os da beira dos rios, também foram rifados?
Este sistema de repartição anual dos prados na Galiza acho que não fica na memória. Ainda que sim existiu até o século passado em Rio de Honor (Bragança) por exemplo.
Um indício são as palavras varzela, varzial, varja, que como parentes de várzea dão nome a terras, prados, à beira de rios; e alargam o seu significado a "terreno comunal" como pode ser lido neste link.
Deste jeito analisado, o sistema de Rio de Honor de partição e sorteio anual do comum, tanto monte como de lameiros de veiga, foi um passo intermédio entre o sistema neolítico-ferro e a propriedade privada da terra que atualmente vigora (1)?
Semelha que sim e que isto foi comum no território galaico.
A imagem de abaixo: Gueimonde de Granhas do Sor, onde é possível observarmos a partição.






Vaamonde de Fumazes e a Tepa (Riós).
Aqui na imagem de Vaamonde de Fumazes vemos outro *-mond-, outro curro.
Como nas anteriores fotos de outros Vaamondes / Bamondes, é observado um curro diretamente relacionado com um rio ou regato.
Indo a camadas linguísticas mais antigas do proto-indo-europeu, o sânscrito ajuda a percebermos e a dar uma ideia mais "acaída" dos lugares toponímicos Vaamonde:
A palavra sânscrita "vaha", adjetivo, substantivo, e verbo, tem muitos significados, e em quase todos eles "vaha", transmite a ideia de movimento, de fluir. Entre os diferentes significados de
वहा está o de corrente qualquer de auga, rio, regato, "rio masculino".
Vaamonde, sob esta visão, e atendendo a quantidade toponínica com a raiz -mond-, mund- que está diretamente relacionada com grandes curros: Seria uma vaha-monde "o curro do rio".
Um rio de nome Vaa corre na comarca de Bergantinhos, outro de nome Va (também chamado Sar) corre no concelho de Fene nas freguesias de Maninhos, Pinheiro e França.


Vaamonde? em Revinhade (Felgueiras).





Quanto ao nome germânico de Badamundus:
Badamundus é pensada uma origem em Bada+mundus.
Mundus como sufixo latinizado do germânico -mund, com o significado de "mão, proteção".
E bada- "batalha".
Hipoteticamente este sufixo -mundus é pensado ter sido previamente -munduz ou -mund.
Bem alicerçado o significado do sufixo germánico mund- como pode ser lido neste enlace.
Dos escritos conservados da época "germánica" é para destacar a obra chamada Getica ou "De origine actibusque Getarum" compilada por Iordanis no século VI, baseando-se num livro perdido intitulado Libri XII De Rebus Gestis Gothorum.
Aqui estão "aparentemente" os escritos testemunhos primeiros em latim dos nomes dos germanos, e entre eles um sufixado em -mundus: Turismundus.
Escrito deste jeito maioritariamente Turismundus para o âmbito académico atual.
Mas na obra Getica, há uma vacilação na escrita em latim (versão online): Oito vezes aparece Thorismud- frente quatro vezes ThorismuNd-.
Já outro nome: Berimud, na mesma obra e de sufixo semelhante nunca aparece BerimuNd.
Confronte-se Bermundo e Bermudo.
É associado este -mundus que é pensado derivar de um primário -mudus, como é lido na Getica, a um hipotético gótico -moþs.
Turismondo seria em escrita do gótico Þaurismoþs.
O sufixo moþs bem alicerçado:
Com o estudo do atual mood inglês, que no inglês antigo foi mōd "coração, mente, espírito, humor, temperamento; coragem; arrogância, orgulho; poder, violência."
Pode ser percebido na etimologia do inglês mood "humor, estado mental", é para destacar como se especializa em coragem, e como as latinas modus, motus, "modo, maneira, movimento" poderiam ter uma raiz comum.
Assim Þaurismoþs seria equivalente a: "a coragem de Thor", ou "a coragem do touro", ou mais atinadamente "dos modos de Thor, dos modos do touro" ou "do círculo de Thor, do mundo do touro.....".
Foi esta passagem de moþs (mud /mudus) e logo mundus quase generalizada ao latinizarem os nomes germanos?
Ou é que há nomes germanos sufixados em moþs e outros em mondō?
Sob esta visão os abundantes nomes germânicos sufixados em -mundus dão com uma uma maior coerência? "da proteção de, da mão de" a "do modo de ação, atuação ou comportamento de"?
Thorismundus, também grafado à galega como Torismodo (Thorismodus) ou Turismão.




(1) A linha etimológica de várzea, com os cognatos asturianos de barcia ou supostamente o espanhol barcino, é atribuída a um pré-romano *barc(u)-, no sentido de «depressão no terreno», ou mesmo a um latim tardio *barcina.
Este radical *barc(u) poderia explicar topónimos à beira de rios com o nome de barco e similares.
Outra hipótese dos topónimos fluviais barc- é explicada derivada de vasc- como é explicado aqui.
Outra hipótese para várzea é derivados vem da ideia que ainda estas palavras levam em si: a de terreo comunal partido.
Em Rio de Onor a várzea de prados à beira do rio era sorteada anualmente, quer dizer estava partida e cada ano, por rifa, cada parte de prado era atribuída a cada casa.
Assim:
Varzela, além de dar nome a uma pequena várzea (terras inundáveis chãs à beira de um rio) dá nome ao terreo comunal.
Varzial: é também um terreno comunal, e dá nome a uma uzeira. A lembrar que várzia no galego dá nome à uz ou urze...
Hipótese:
No começo da agricultura e gandaria no neolítico, e com o aumento da população, começaria a haver espaços particulares com um reparto do comunal, tanto das terras de monte como das terras de veiga. Este reparto perdurou em maior ou menor grau até a chegada do sistema capitalista ao mundo camponês (em certas zonas perdurou ainda coas veigas, e em grande parte do pais galaico ainda nas figuras de monte comunal , monte em mão-comum, baldios...).
Apareceu então a partição e a palavra parte?
O latim oferece a palvra pars para a partição, as línguas célticas, desde uma posição inferiorizada acham que as suas palavras derivam do latim ou de uma adaptação da palavra latina. Ora o sistema de partição deveu ser geral a toda a região neolítica europeia.
Assim no berço atlântico a partição deveu ser pronta devido a orografia e clima que permitiu uma ocupação quase total do território com usos agro-pastorais.
No proto-britônico é pensada a raiz *parθ que daria os atuais: bretão parzh, córnico e galês parth.
Sob a mutação da consoante inicial céltica estas palavras também são pronunciadas, grafadas, como por exemplo no galês: barth e mharth.
Isto explica que a raíz das palavras célticas de raiz parz- (parcela), tenha por par quase idêntico varz-/ barθ (varzela / barcela).
Observe-se o paralelismo entre a palavra varge (vraja, várzea de rio) e a palavra marge(m).
Esta partição, ou proto-propriedade privada inicial neolítica por sorteio anual é possível ser assim nas culturas cerealísticas, nos prados ou lugares de pasto. Quanto às àrvores, os castinheiros ainda perdurou até os tempos atuais a propriedade privativa de uma árvore que medrou dentro do terreno comunal, partição de velhos castiros que chega a atribuir a cada família descendente de um ancestral, cada grande galho ou ponla da árvore anciã.
Uma dificuldade com a que esta partição anual deu foi com a cultura das videiras, pois as cepas são centenárias é o seu cuidado ultrapassa a ideia de ano.
Aqui vai um exemplo de proto-cultura de vide quase comunal:


É a vinha de Requeixo em São Vreijo de Queiroãs (Alhariz). A vinha está murada em todo o seu redor e está ultra-partida, como é possível ser visto na foto-plano do lugar, nos mais dos casos cada gávia ou rego de videiras é de diferente propriedade.
Hipótese:
No neolítico inicial o sistema era mais gandeiro do que agrícola, isto explica as zonas especiais muradas para culturas de horta, as cortinhas, que ainda é possível identificar como estruturas de cento cinquenta metros de longo aproximadamente e vinte metros ou menos de largo, e de extremos arredondados.
A cultura das vinhas em zonas de gando requer estruturas de defensa, mesmo na época das uvas os muros são "bardados" pondo sobre eles gavelas de tojo ou silvas para impedir a entrada de cães ou do raposo.


Nesta imagem pode ser vista a Vinha e a sua relação com o curro de gando afunilado, (-mnd-) chamado: os Paçairos. Na ideia de gando em pastoreio livre durante o alargado periodo neolítico-ferro e agricultura em espaços murados e a de cereal como até há pouco, polo sistema de roça de terras "marginais" que mesmo servem de paça, no caso do centeio, durante a baixada alimentar invernal.
A disposição das casas no extremo do curro e o nome da população como Requeixo condiz que a sua denominação foi devida a esta situação referenciada com o grande curro.
Analisando a palavra várzea desde o asturiano: achamos a palavra barcia com as formas parelhas bardia e barda; palavras que se especializaram em dar nome à sebe, dalgum modo à margem, ao limite, à divisão, com o significado de sebe, silva, planta espinhosa e o mesmo que no galego vegetação espinhosa cortada disposta sobre muros para impedir o passo de animais.
Assim o asturiano relaciona diretamente barθ- / parθ- com bard- que também pode ser percebido no galego.
A barda, o bardal, o bardial, o bardaleiro, a bardanca, som peches das leiras feitos de sebe de tojos, de silvas enguedelhadas, de silbardos, ou inclusive o semeado dentro desse recinto, normalmente trigo.
Abardar: choer com barda; e desabardar: abrir o pechado.
Barda: armadura de cavalo.
Barda: estaca
Barda: pedra grande e plana.
Bardado: remate último de pedras que sobressaem no lousado para tornar a choiva.
Barda: pedra que sobressai no alto das alvariças, livre, para afugentar, ao ser pinçada, os ursos que tratem de agatunhar pola parede, normalmente som crias errantes que buscam novos territórios, os esbardos, que é o nome dos ursinhos novos.

Neste ponto é possível já ir percebendo a relação entre varzela na ideia de parcela e na cultura das vinhas a palavra barcela?
Palavra barcela que é a mesma que barcelo e bacelo. Estes três jeitos de dizer o mesmo nomeiam o terreo de vinha e nomeiam a vide nova plantada de tancheira / chanteira ou estaquinha.
Também bacelo é definido como porção de terra que formava um pequeno feudo.
Tudo isto leva a pensar que o bacelo, barcelo ou barcela inicial do neolítico foi uma parcela, uma partição de propriedade comum. Posteriormente divergiu em ba(r)celo para as vinhas e em varz- para lugares de pasto ou cereal?


































Baamorto?

Sem comentários:

Enviar um comentário