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Rio Isso

O rio Isso nasce numa bacia que ocupam as freguesias, em movimento de relógio, da Melha, Boimorto, Boimil, os Ángeles, (antiga Perra), Dormeá, Corneda, Rodieiros, Orois, Grovas e Baltar.
Discorre em direção sul até o Ulha, no que desemboca no atual encoro de Porto-de-Mouros.

Centra-se o escrito no vale que em grande arco dá origem ao relativo nascimento do rio, relativo como logo se lerá.

Ruina montium?, minas romanas na cabeceira do rio Isso.




Graças a estes mapas http://mapas.xunta.es/visores/basico/, é possível ter uma visão de como é a superfície do terreno.

Nesta imagem superior chamam a atenção os grandes regos profundos polos que não corre nenhum rio caudaloso, pois estão numa parte bastante elevada do monte de Grovas, (coto Salgueiro, Invernadoiro) sem grandes encostas.
Leva a pensar que são regos antrópicos.

Seguindo cara o norte na parróquia de Grovas, é isto que se vê:



A aldeia de Grovas de arriba está encima de um cone de derrube, e no seu norte tem outro.
A aldeia é um chão de menos de quinhentos metros, onde não discorrem águas fortes, chão que cai abruptamente cara o norte e sul em cavorcas profundas, o cavorco "mineiro" sul é chamado " a crota".
O cone norte indica mais claramente a possibilidade de ser um derrube de técnica mineira.

Em maior detalhe:


Grandes valas que caem para o Regueiro desde a parte norte da aldeia de Grovas de arriba.


Essa bifurcação não é frequente nas zonas de clima e terreno galegos.
Vemo-la também no castro de Baltar e Castelo de Grovas:


De onde traiam tanta auga para fazer tal buraco?, ou foram feitos a mão escrava?
Ao sul destas duas parróquias, (de Grovas e de Baltar, hoje em dia unidas relativamente pois compartem a mesma igreja), está a freguesia de Golám, que também cai das abas do mesmo grande coto Salgueiro cara a bacia do Isso.
E em Golám sobre a igreja de São João vemos:


(No leste o Castro de Maceda)

Estes cones de derrube tem relação com a água, pois sobre eles corre uma gaiva, a "Ghávia dos Chicos", que nasce na parróquia de Orois recolhendo as águas dum regueiro dos prados de Outeiro e que correndo praticamente sem desnível circundando o coto, chega por cima dos cones.
(Podem ver fotos e vídeos da canal, da Gávia dos Chicos aqui: https://www.facebook.com/gaviadoschicos/).

Até aqui foram-se mostrando os possíveis restos de mineração na margem esquerda da bacia de nascimento do Isso.

Pola margem direita:
As formações mais chamativas estão ao mesmo pé da freguesia de Boimorto, onde a toponímia dá os nomes dos cones de derrube como Rego do Seixo e Rego do Paço...


No sul o castro do Pedral ou da Viladóniga.


Boimorto é relativamente um planalto, e o rio Isso que ainda não leva o nome definitivo, "regueiro da Sobreira", marca um profundo val.
O chamativo, ao igual que no lado de Grovas, é que não há grandes nascentes, por ser cimeiro o lugar, e os "regos" dificilmente podem ser entendidos com caudais ligeiros das nascentes que manam arriba...


Hipótese da mineração do lado de Boimorto:

No lugar de Madelos, no limite entre as freguesias dos Ángeles e Carelhe, o rio do Batão é desviado parcialmente, por uma canle, conhecida pola Gávia, que leva auga à parróquia dos Ángeles.
Ponte de Madelos, desvio da água para a Gávia.

A "Ghávia dos Ángeles" (nome local), percorre uma curva de nível até o Moinho de Mato, ao pé do Castro das Corredoiras, e passado o carvalho da Mosqueira, baixa pola V'rea, onde  dava serviço de auga directa às gentes, com lavadoiros e moinhos, pois corre polo rueiro da V'rea diante das portas das casas. A "Ghávia" acabava por regar milimetricamente um valigote, os prados de Linheiro, hoje desaparecida a rega pola concentração parcelária.
A Ghávia no seu discorrer ajuda a formar o rio da Sobreira que conforma o Isso.

A lenda da Ghávia conta que foi feita numa noite juntando-se todas as gentes a trabalhar....
Que mandaram por diante o cavalo do amo ou senhor, que marcou o caminho (1). Esta lenda é idêntica à da Ghávia dos Chicos de Golám, descrita anteriormente.

Quando foram feitos os lavores da concentração parcelária na parróquia dos Ángeles, apreceram canles enterradas, perdidas ...

Estas canles levavam a auga da Ghávia pola parróquia de Boimil até Boimorto onde foi feita a minaria?
Pois possivelmente, pois não há outra fonte ou manacial que dê força e quantidade suficiente de augas como para fazer o arraste que se tem feito. Quem sabe?


Perdida a função mineira romana da cavea, ficou para serviço de moinhos e rega?



Ao pé dos Castro de Madelos sai o canal que passa ao carão do Castro das Corredoiras e daí na atualidade vai canalizado polo Campo da Lança, a V'rea e Linheiro.
A hipótese é que a Ghávia deu serviço para a ruina montium que foi feita na zona de Boimorto, e mesmo na zona de Dormeá.


Alguns rastos toponímicos:

A etimologia refere Isso a uma raiz europeia *eis- (correr velozmente).
Também com relação a içar (elevar), ou a exitus, saída.
Exire latino que no galego medieval foi eixir.

No francês, o exire latino (sair), tem por cognato celto-latino, ou por derivação o verbo isser, com o particípio issu.
Issu francês que significa, nascido de, descendente de, proveniente, que sai de, que deriva de, que resulta de. ...
Exiēns flūmen?

O rio Isso na sua cabeceira tem dificuldade para definir exatamente a sua nascente.
Como se relatou anteriormente, a Ghavia dos Ángeles é saída, nascida do rego do Batão no lugar de Madelos, em Carelhe, em forma de gávia, (gaiva no padrão).
A gaiva trasvasa augas da bacia do Tambre para a bacia do Ulha.

Ainda que, para algumas pessoas, o rio Isso nasce na freguesia de Boimorto dum rego que cai do Casal de Munim, por um dos cones da suposta minaria.
Enquanto que que para outras pessoas, é o regueiro que recolhe as augas de Dormeá, de feito o lugar de Ribadisso da Fraga está em Dormeá, Regueiro que recolhe as augas nascidas nessa freguesia, em Corneda e em parte de Rodieiros.

Seja como for, estas três fontes vão já unidas em Ribadisso da Melha onde o nome do rio é único e não é questionado.

Esta origem ainda não consensualizada, e o rasto etimológico, dá para pensar que foi a Ghávia dos Ángeles, o desvio do rio do Batão, a causa do nome do Isso?
Ghávia que ainda que agora apenas fica na parróquia dos Ángeles, correu para leste e oeste por Boimorto e Dormeá dando serviço à minaria?


Em tempos, um reio ou uma anguia podia entrar pola ria de Arouça, subir o Ulha, e o Isso, e ir dar em Madelos ao rego do Batão, que aos poucos quilômetros forma o Tambre, em Prêsaras, reio ou anguia que sairiam ao mar pola ria de Noia...
Tempos nos que nos prados de Linheiro, segando nos ervais enchoupados, viam-se andar as anguias por eles como serpes....

Outro topônimo que semelha estar relacionado é o de Eixe de Lamas na parróquia de Baltar, aldeia ao pé do cone que afecta ao perímetro do castro de Baltar.
Eixe de Lamas pode ser isso um eixo de lama, um eixo de rodas de lamas, de jantes de ferro. Ou um eixe, exitus, exiens, issu saída de lama da mina...
De feito a aldeia de Eixe de Lamas está sobre o acúmulo de detritos em abano, de um rego de mineração:


(clique para ampliar)

O lugar de Eixom / Enxom, na freguesia de Dormeá, apresenta um suco fundo, (outra grova?), que a recente concentração parcelaria minorou algo.
Eix
om, que alguns falantes também pronunciam Enxom, polo que corre um regueirinho de pouca auga que ajuda nas nascentes do Isso.
Eixom também procede de exire, com exiens, saída, partida?



Castros de Dormeá nas esquinas superiores.
No centro do plano, pode ser visto um sulco, que desce do norte ao sul, no lugar de Enxom / Eixom.




Grovas:
Lembrar o que é uma grova: entre outras cousas uma depressão profunda do terreno, uma cárcava, um fojo, uma vala...

Golám:
Gola, pescoço, estreitamento.

Orois:
Ouro?

Ainda muito por seguir investigando...










O suposto acampamento romano da zona:
A continuação vão uma série de fotos do lugar e explicação da suposição:

Na foto dos anos 50 da parróquia de Santa Maria de Perra, atual parróquia dos Ángeles, no lugar de Linheiro, pode ser observada uma estrutura quadrangular que destaca num pequeno outeiro.
Outeiro chamado Coto do Ferreiro, pois era propriedade da casa do Ferreiro, vizinha ao coto no lado sul.


Antes da concentração parcelária, esta estrutura "rara" de Linheiro, conservava no seu lado norte, a parte de menor longitude do seu perímetro retangular, um valado que nalguns pontos podia ter os dous metros de altura.
Entre o valado e o cômaro corria um caminho, no tempo corredoira de carros.
A estrutura está num planaltinho que coroa uma pequena lomba, observável bem desde a parte de Dormeá, hoje em dia com um edifício pecuário, uma nave galinheiro. Para os lados oeste, norte e sul cai com um ribaço, cômaro, elevado metro e médio, dous metros.

Tal estrutura em todo o seu redor tinha caminho perimetral que corria intra muro, caminho que ia dar serviço às terras de lavrança.

No lado norte o caminho corria entre o alto valado e o cômaro do pequeno planalto no que seria o seu assentamento, essa corredoira semelhava andar polo foxo defensivo norte.



Outra característica que chama a atenção é a orientação dos seus lados mais longos, que não é claramente norte-sul, e sim nordeste -sudoeste.
Orientação que é igual à que pode ser vista nos fortes da Ciadelha (Sobrado), do Cornado de Bugalhido (Negreira) ou o da Cidá (Aquis Querquernis) e na de outros possíveis fortes ou aquartelamentos romanos da zona: Cúrtis,  Leão de Oíns.


Sombreado do possível forte de Linheiro, no coto do Ferreiro

Imagem atual do lugar de Linheiro dos Ángeles

Linherio, a mesma estrutura mais ampliada

Na Ciadelha, muito perto, há este assentamento romano que ponho aqui para comparar co de Linheiro.
O que chama a atenção é a semelhante orientação, que não é exatamente norte.


Leão, na freguesia de Oíns (Arçua), mui perto da freguesia dos Ângeles, outro possível acampamento com a mesma orientação, com uma etimologia que poderia ser derivada do latim legio.
supostas quadrículas romanas, centuriação no limite entre Nossa Senhora de Cúrtis e Barbeiro.

Interpretação conjunta:
A cabeceira do Isso talvez foi um lugar de grande minaria romana, talvez anteriormente à dominação romana poderia ser já um lugar relevante, haveria que investigar. Na zona entre as freguesias de Folgoso, Carelhe e os Ángeles, existe o topônimo Minhota que dá indícios da possibilidade da existência de minaria. Atenda-se que a palavra mina não é nem romana nem grega, que remete a uma origem galaica. Nessa zona, a Minhota dos Ángeles, existia uma barreira que que a concentração parcelária ocultou.
A zona deveu ter grande população pois em cada paróquia há como pouco um castro, ou como no caso de Carelhe até quatro.

Olhando o mapa, o mineral sairia por diversas vias, uma delas marcada polo miliário achado na Vila-Nova de Boimorto.
Uma via menor  seria o caminho que desde Golám, passando por Baltar e Grovas sobe pola V'rea, (verea) dos Ángeles e seguiria polos limites entre Anda-Vau e Folgoso, passando a Prêsaras pola antiga Ponte-Sampedra de Folgoso, depois pola Lage iria dar a São Vicenzo (de Curtis), ou por Vilarinho à Ciadelha de Sobrado...
Um dos lugares significativos desta rota na freguesia dos Ángeles é a Peroja, do latim parocha, da que podemos ver mapas:


A Peroja dos Ángeles, (com um henge?)
Imagem dos lugares destacados da via norte de saída da zona mineira da cabeceira do Isso.
Recomenda-se ampliar a imagem.
Na Peroja haveria como um lugar de abastecimento por ser lugar de cruzamento de vias, as mesmas atuais estradas, (atenda-se ao topónimo das Corredoiras que nomeia o cruzamento), seguiria pola V'rea abaixo, no lugar de Linheiro estaria uma fortaleza, ao pé dela seguiria a via que no lugar de Ribadisso da Melha talvez estivesse centralizada como um talher que recolheria a mineração da margem direira, os diferentes regos que baixam de Boimorto para o rio da Sobreira, e também a mineração da grande Grova, a grova norte de Grovas darriba, daí seguiria pola atual estradinha que vai Grovas arriba, a Baltar e Golám.


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1. Sobre o cavalo do amo atrás do que as gentes iam cavando a gaiva:
Um instrumento da engenharia romana, ou antiga, é chamado chorobate ou corobate.
Fica aqui a sua imagem:


A ideia é que no imaginário ficou isto como um cavalo, ou mesmo um burro, de feito é um cavalete, ou também entendido um burro.
No caso da fraga dos chicos, chico é uma palavra de pouco uso, mas com o significado de burro.



















The name IJssel (older Isla, Isala, from *Īsalō), is thought to derive from a Proto-Indo-European root *eis- "to move quickly" (Old Norse eisa "to race forward", Latin ira "anger").[1] In the Middle Ages, the Zuiderzee had not yet formed, and in its place there was an inland lake known as Vlies (Lat. Flevo), and the IJssel flowed through the surrounding lakelands. However, since the formation of the Zuiderzee and obstruction from the Afsluitdijk, the IJssel no longer flows into its estuary, the Vlie, now restricted in meaning and referring only to the strait separating the islands of Vlieland (itself named after the Vlie strait) and Terschelling. It is hypothesised that the now-poldered tidal inlets near Medemblik and the IJ (near Amsterdam) once were branches of river IJssel.
Nas margens deste rio, limite da Roma morava o povo Sálio:
A partir do início do século VII, o nome francos sálios (ou salii em latim) é usado em contraste aos francos ripuários. Salii deve ser derivado do nome da região medieval alagadiça de Sall zee, próxima ao Zuiderzee, ou do Issel, antes chamado Hisloa ou Hisla e de forma mais antiga de Sala,[3] indicando esta região como a residência original dos sálios. Até hoje esta região é chamada Salland. O nome pode eventualmente ser uma referência ao sal e, por extensão, ao mar, referindo-se a localização costeira.
Como no post Sabuzedo é visto sal- (salgueiro), tem a ver com saída. Tendo pois o povo Sálio e o rio Isalo a mesma raiz etimológica.


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