© Copyright. Direitos autoriais.

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Falerpos



O relato paralelo do rei Herla. A caçaria selvagem, ou como a vida mesma...

(Grato a Pinkola que me ensinou a ver o que se lê).




A continuação vai um relato dum rei que traspassa as portas, e quando volta tem que continuar d'acavalo, ele e a sua hoste, pois se pousam o pé na terra, morrem desfazendo-se em poeira.
O Rei Herla capitaneia uma caçaria selvagem, um grupo de pessoas guiadas polos seus interiores animais, polos seus animais de poder, por animais psicopompos.
Caçaria selvagem que foi, é, rito de iniciação de conhecimento do si, de liberação.
Rito que foi, é, guiado por plantas de poder, algumas mestras ao seu jeito.

O rei Herla, é o rei cânabo, confrontado com o rei dos anãos, que é o rei da amanita (Amanita muscaria)?

Havemo-lo saber.

O relato a seguir, levemente modificado, está tirado daqui com leves modificações:
https://andrepenagranha.wordpress.com/2013/08/07/la-amoura-y-el-caballero-revisitado-por-andre-pena-granha/


Uma tarde, após duras jornadas de cavalgada na espessura do grande bosque milenário do seu reino, Herla, o sábio rei dos britões, deixou aos seus homens e retirou-se a descasar num claro entre as velhas árvores. Dormitava quando o crepitar de algo que passava entre as árvores acordou-o. Instintivamente levou a sua mão à espada, e foi surpreendido por um aparecimento certamente estranho. No claro, entrava um grande bode, sobre o que se sentava um hominho não maior que um menino, mas de grande corpulência; tinha os seus músculos exageradamente desenvolvidos e uns enormes pés. Seu tosco e velho rosto luzia uma espessa e hirta barba.
Deteve-se sorrindo ante o rei Herla e disse-lhe: “Tenho ouvido falar da vossa sabedoria e justiça como Rei, eu sou rei de meu próprio reino, e gostaria de pactuar um compromisso com vós: Se vós me dais o gosto de me convidar ao vosso casamento, eu pola minha parte vos convidarei ao meu”.
Oferecendo-lhe a seguir ao rei um corno de bronze de maravilhosa lavra e convidando-o a beber. O rei Herla duvidou por um momento considerando a conveniência de aceitar um pacto com O Além, mas aceitou o corno e bebendo apressou até o fundo seu conteúdo, depois do qual o anão se despediu e desapareceu rapidamente.

Ao ano seguinte o rei Herla tomou esposa, e no dia do seu casamento, quando todos os convidados estavam dispostos para o banquete no salão real, nas grandes portas de carvalho ressoou uma chamada de corno, depois da qual entrou uma hoste de anãos portando ricos presentes, copas de ouro, cornos de extraordinária lavra, cadeiras de madeira lavrada com intrincados desenhos, e muitos outros presentes de considerável valor. A festa foi esplendorosa, as viandas e o vinho que o hóspede anão tinha trazido nunca pareciam se esgotar, no ponto de que as reservas do castelo mal tinham sido tocadas. Ao final da noite os anões marcharam, e o rei dos anões lembrou-lhe a Herla o seu pacto e mútua promessa.
Ao ano da sua noite de casamento, o rei recebeu uns heraldos do seu amigo do Além, “Outro Mundo”. Reunindo aos seus melhores cavaleiros, e grande abundância de nupciais presentes, partiu para o perigoso país no que poucos homens se ousaram aventurar.
Depois de viajar durante muitos dias por serpenteantes caminhos do denso bosque na procura do longínquo reino, finalmente chegaram a uma sólida e impenetrável parede de pedra. Quando ao pé do grande tapume estavam pensando como resolver essa dificuldade, escutou-se um som como de um sino, e abriu-se um caminho no meio do pétreo muro, por cuja abertura passaram os cavaleiros, se achando numa grande gruta, alumiada por flameantes tochas dispostas
a intervalos nas paredes de arenisca. Um passadiço conduzia desde a caverna até o mais profundo da terra. Guiados pela luminosidade das tochas seguiram-no por algum tempo até que lhes pareceu perceber o ruído de risos e o regozijo de uma festa, encontrando ao final do túnel uma gigantesca caverna resplandecida por milhares de fachões que, sem necessidade de combustível algum, pareciam arder como com luz própria. No centro da caverna alçava-se uma formidável mesa de carvalho, ante a que estava sentada uma multidão de anãos. Quando o rei Herla brindou os presentes de casamento ao rei dos anões começou a festa.
Fazia já três dias que tinham partido, ainda que o tempo lhes parecia ter passado num instante. Ao final a companhia decidiu marchar, carregada de preciosos presentes que lhes deu o rei dos anãos, um deles era um pequeno cão vermelho como o sangue.
O rei dos anãos, chamando privadamente ao rei Herla, confiou-lhe que nunca mais poderia estar no seu mundo a salvo sobre o chão, e rogou-lhe que ficasse com ele, mas foi em vão, explicou-lhe que até que os cãozinhos presenteados não saltassem a terra desde a garupa dos seus cavalos em por eles mesmos, nem a sua pessoa nem os seus homens poderiam desmontar.
O rei Herla agradeceu-lhe o seu conselho e continuou o seu caminho.
Quando os ginetes saíram da gruta, ao pé da parede de pedra surpreenderam-se enormemente de uma visão pouco familiar. Os campos cultivados tinham substituído aos grandes bosques, e em vales onde antes só havia árvores, alçavam-se agora pequenas aldeias por todas as partes.
Ao ver a um idoso, que de pé cuidando o seu rebanho de ovelhas estava não longe de ali, o rei Herla dirigindo-se para ele, perguntou-lhe se sabia onde estava o reino do rei Herla.
Depois de um longo silêncio o idoso contestou-lhe falando de forma estranha:
"Meu senhor, dificilmente falo a sua língua, eu sou saxão e você bretão...", explicou que o reino do que falava conhecia-o pela lenda, ainda que tinha desaparecido havia 300 anos. Contou-lhe como as histórias do lugar narravam que um rei tinha desaparecido, e como a rainha tinha morto buscando o seu amor perdido.
Nessas, alguns cavaleiros do rei trataram de desmontar, mas ao tocar com o pé no chão converteram-se instantaneamente em pó. Então o rei Herla ordenou aos seus homens permanecerem mas suas selas até que os cãozinhos vermelhos como o sangue saltassem ao chão.
Conta-se que o rei e os seus homens ainda cavalgam pelo país até hoje esperando o momento no que os vermelhos cães saltem...

(Grato também a Juan Matus, e ao seu compilador Castaneda).


As portas, podem ser muitas portas.
Uma das portas principais é a da morte, a do além. Quando uma santa ou um santo traspassa essa porta, nem sabe que a três-passa, pois apenas com olhar do outro lado: avonda.
Quando se retorna, o tempo tem corrido muito.
Que é esse retorno?
É a reencarnação?
Volta-se talvez fazer outro labor, no tempo espaço desta dimensão, lembra-se ou esquece-se o seu anterior passo por cá.
E aqui estamos uma e outra vez todos, no mesmo teatro ensarilhado a resolver?

Quando se entra no mundo cânabo, há umas energias que não sendo conscientes delas arrastam, isto é: a planta tem um programa auto-download de pensamento que entra na mente de quem a utiliza, e a mente do canabiçado é utilizada pola maconha.




O rei Herla, veste, como outras personagens, o seu casaco de estopa ou serrapilheira, isto é: um saco, veste primitiva de fibra de cânabo, rei Herla que volta a aparecer como buscador do santo Grial na personagem de Perceval, Perceval que veste a roupagem grosseira que a sua nai lhe tinha feito, um saco de serrapilheira de cânabo, mas por cima de tal saco leva outras roupas, que não são as dele próprias, consegue em luta as roupagens do Cavaleiro Vermelho.
As suas cores são a verde do cânabo, e da ligação à natura, e a vermelha, do intento de separação.
As vestes da nai, são as próprias vestes que não se abandonam, isto é a placenta.
Mas ..., o cordão umbilical que rompe, e mesmo a placenta, não são tecidos da mãe, são próprios de quem nasce, e deixa no caminho...
Placenta que metaforicamente e não por casualidade são as livras, a livração, o livramento, as quitas ou esquitas...
O cavaleiro cânabo, está ligado numa relação com a feminidade não ainda ressolta?
Esta é a energia da Maria, da maconha.
Por isso quem cavalga esse cavalo, e digo cavalo com toda a força da gíria que lhe deu nome a este elo dificultoso com uma substância poderosa, com a droga, quem cavalga o cavalo do rei Herla deve saber que tem algo a solucionar para descer dele.

Entre o verde e o vermelho:
Quem lhe dá a clave ao seu problema de atadura com o feminino materno é o rei da Amanita muscaria?

O cão vermelho, é o cão das paixões que pode evidenciar o cânabo, não que o cânabo cria, as que o cânabo saca ao quase consciente do nosso subconsciente, padrões de pensamento, rigidezes cognitivas, ideias generalistas que quem detenta o poder utiliza para escravizar, inconscientes erros em falsos silogismos que quem foge da própria soberania utiliza, armadilhas mentais...., tudo isto entra no quadro da lógica do pensar, inquestionado, como por exemplo: não sou suficientemente válida ou válido, ninguém me quer.... E produz resultados de falta de liberdade.
Este programa da maconha com auto-download, e em certa forma anti-viral, tem inconvenientes, entre eles que a sua atuação e remeximento de cadeias também pode ser inconsciente, havendo dificuldade de pará-lo, ou mesmo de entender o que está acontecendo.Esta planta de poder tem muita força de sedução e de manipulação, tem um lado obscuro, mas tem uma vantagem enorme para quem saiba cavalgar a besta, aplicação que é evidenciar esse lixo, programinhas virais de automatismos que entram inconscientemente em funcionamento e que nos fazem dano...

Mas, uma vez começado o caminho..., uma vez que se trespassa o vau ou o vão...

Estamos diante de uma planta heralda, penso que etimologicamente da mesma raiz que o rei Herla, à que é relativamente complexa entender-lhe a mensagem, planta que nos abre portas...











Herla cyning:
Cyning é o nome que nos relatos qualifica ao rei Herla.
Cyning tem o significado de rei.
Esta palavra cyning, na sua etimologia dá ideias duma estrutura de pensamento diversa à de hoje.
Cyn- tem a ver com o quino, o porco e o cão, o cyning é o "cãoçando"...
Herla cyning é Herla o rei, mas também é o Herla caçando, o Herla cão, o Herla porco-bravo?
Três elementos unidos num, o caçador (King), o caçado (porco-bravo), e a caça (ação do cão) entram dentro da palavra cyning, (rei).




https://damadenegro.wordpress.com/2011/12/17/la-iglesia-conventual-de-san-francisco-betanzos-el-sepulcro-de-fernan-perez-de-andrade/


Estamos diante do cânabo na caçaria?
Estamos diante do filho da Maria no seu atuar caçante?
Estamos diante do caçador que se caça a si mesmo?

É logo isto o ajejo de si?

.

A rainha espera a sua volta...

A mulher que espera?, espera que o neno se faça homem?
Que espera?
Penélope esfarrapa, Penélope esfarrapando a farrapeira, para tecer um novo farrapo.
Penélope a teia dos teus sonhos....
E o home de taças, ou de caça...
E o home?, no intento de se fazer home, por um mundo adiante que dizem mundo de home, mas mundo é de crianças, de órfãs crianças, de nenas e nenos do norte...
E como é que volta o já home?
Esfarrapado, entre falerpos de neve e frio, a uma nova porta, no limite da vitória e da derrota...


Bato, peto na porta?
Ou entro sem petar, pois é a minha morada, e digno sou de não pedir licença mais que a mim mesmo?


Pum, pum, pum!

(Os três passos, ou as três petadas)

Fora ou dentro: falerpa.

Também assim chega o Ulisses.








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Falerpo, folerpa e folerpo.

Com muitas variantes que chegam a gholerpa.
Onde há uma mutação da consoante que pode ser que indique a sua antiguidade, ou outras cousas...
No asturiano e galego também com a série falampo que chega a zalampo.

Nos nomes dos flocos de neve: temos uma série em fal-/ fol-, e outra série em farr-.
folepas, falerpas, felipos, faloupos...
farrapos...

Com a forma farlopa dá-se um caso a esculcar e debulhar: é derivada ou matriz de falopa?, (ambas as duas palavras galegas?), farlopa e falopa acabáram no lunfardo de daí se espalharam dentro do espanhol.
Mas de onde é que vem essa sequência farl- que supostamente derivou em fal- e far-?
No occitano farlengar e esfarlengar é: esfianhar um tecido, desfazer em farrapos algo. No galego uma palavra pouco usada é esfarlipada, que é como queda uma árvore com as ponlas rotas depois de ser vareado o seu fruto.

Então seria possível uma raiz comum a todas estas palavras: farl-, ou mesmo faldr-, (faldra), que derivaria nas formas galegas atuais: farr- e fal-/fol-. De onde o farro, farrapo, farraco e farinha, ..., viriam polo latim, ou cognatas dele seriam, outras de desenvolvimento endógeno como são as variantes, tantas, dos flocos de neve....

Esta raiz protoindo-europeia que dá nome a flocos, a fios, à penugem baixo as camas e esquinas dos quartos, também está no tronco germânico onde o inglês harl, dá nome aos fios e fibras de cânabo ou linho, com a forma alemã harle e o frísio harrel.
A ideia de estar o cânabo debaixo de toda esta reste de palavras vai dar no nome do rei Herla, entre outros contos: chefiador da caçaria selvagem...
O arlequim / harlequim seria um esfarrapado?

O catalão também dá a chave etimológica deste fio: ferla é nome para uma cana ou canabeira, também dá nome a uma quantidade mínima, um cisco, um chisco; a etimologia latinista faz derivar o catalão ferla do latim ferula, e não se nega, mas..., põe-se em dúvida ao ver que essa sequência farl- / ferl- pode estar como nome antigo do tecido do cânabo..., e mesmo ser esta raiz a que geraria no latim a palavra ferula. No espanhol cañaherla e cañaherja dão nome a uma planta umbelífera da que se usou o seu talo, ou cana.

Esta ideia de que no antigo o cultivo do cânabo foi mui estendido, e que tivo força lexical para chegar a dar nome ao mesmo floco de neve, (como noutros idiomas a palavra flor, "flor de neve" ou pena, "pena de neve"), pode ver-se apoiada nas palavras trasmontanas lerpa e lerpe?, (nuvens esfarrapadas que no verão anunciam chuva ou trovoada), lerpa e lerpeda da fala trasmontana, com uma hipotética deriva tal que de folerpa / falerpa: *holerpa / *halerpa: lerpa?
Um lerpe trasmontano é um pedacinho, do mesmo jeito que um farrapo é um anaco de tecido?
Confronte-se o espanhol alampo (floco de neve), que claramente deriva de falampo.
Seria o primeiro fole um saco feito de tecido de cânabo?

Esta raiz antiga falr- para tecidos tem no galego: faldra, ou no espanhol halda: tecido basto de (harpillera), serrapilheira.
Por exemplo a palavra faldrapo, que semelha uma má pronúncia de farrapo, está também dando indicações etimológicas da raiz protoindo-europeia do nome dos primitivos tecidos de cânabo. Faldrapo fai o elo entre o farrapo de neve ou teia e o falerpo de neve.
A faldriqueira ou faltriqueira também anda por aqui. Um feldrelho que é um farrapo colgante...
Talvez o tipo de tecido de felpa esteja por aqui também.
Se tiramos do fio do cânabo vemos como farl- poderia ter uma fortição como: parl-, palar, então entende-se que durante a colheita e transformação do cânavo a conversa e parranda seria muita...
E aqui inclino a minha cabeça em respeito a Terence McKenna, grande esculcador que deu lição de como o mundo vegetal se comunica com a humanidade, e de como influi no crescimento cognitivo dela.


Lembrar a força toponímica do cánavo pois há muito Canabal pola Galiza adiante e Esfarrapas também....

Escrevem-se também a série de nomes que indicam volume vazio, como faloca / falopa, baloca, seguramente com uma forma intermédia *valoca (baloca), de onde *valo seria o étimo que deu o adjetivo valeiro / baleiro, valdeiro / baldeiro, valdreiro, como aquilo que é vácuo, um baldralhas, ou baldréu...

A palavra trapo, dizem do céltico *drappus. Mas antes de *drappus foi faldrapo: haldrapo: (al)drapo: drapo : trapo?

Tem a ver com fardo, e com fardar?

O linho nas falas germânicas, tem as fomas flax no inglês, vlas no holandês, Flachs no alemão, de um proto-germânico: *flahsą, tam pertinho de filachão ou do espanhol hilacha.
Poderia ser que os nomes do cânabo e do linho nestas falas derivassem duma forma comum....

Das mutações consonânticas:
O cánavo, ou canavo e a a férula ou *verula ou beurla e bearla (que é a palavra gaélica para fala e que pelo processo de colonização deu nome ao inglês em exclusiva)....
Na remexida etimologia da planta que fala, vou achando que *berula é raiz protoindo-europeia do falar, da boca, da palavra...
No seu grau de lenição fortição:
*Perula: parola
*Pelura: palavra
*Berula: belurico, bilurico ...
*Belura: Belara, idioma, fala.
De onde no antigo gaélico bél é boca.
Bel-ara, seria algo assim como boqueira.
A Belém, o promontório, o morro.
Então a raiz antes do que *pelura, é *pel-/bel-/mel-.
Assim também a planta, o fungo converteu-nos aos monos em parlantes:



Lembras?
A maestria...
E um dos inícios...
A maçã da cidra...
Sagarroi, rei ouriço...












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Grato a todas e todos que tecemos este presente.
...













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Airla / erla, gaélico irlandês, cabelo, trança, madeixa de cabelos, cabelos longos, parte de uma corda.





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