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Nai


Minha nai, minha naizinha,
como a minha nai nenghumha
que me quentava a carinha
c'o calorzinho da sua.


Como é que o português mais nortenho, o da esquina, conserva a palavra nai?
Nos outros falares comuns a palavra é mãe ou mai.
Muita incógnita, inclusive a nasalação do a, que dizem ser por influência do eme.
Alguns autores fam derivar nai de mai, por ser fala de crianças que no seu balbuciar ... ne-ne-ne-ne, na-na, n ....
Mas, eu questiono-o.
Sim, os bebés com rudimentares fonemas definimos o mundo.
Pois, por que nom se mantivo o eme de mai, se é que esta foi da forma originária mater?
Línguas de todo o mundo referem-se à nai co eme. A maioria das línguas indo-europeias levam o eme, inclusive línguas afastadas e de troncos diversos tenhem a palavra mamá, amá, omá.

O eme e mamar nascem do mesmo. A nasal sonora bilabial /m/ nasce no mamar, nos dous beiços que chucham, apertam, afrouxam, e o som sai polo nariz.
O /n/ gera-se mais atrás, a alveolar, sai da língua, e do movimento da língua dentro, do primeiro canto, ritmo, do ne-ne-ne-ne-ne.

Remexo, e mexo-me contra a ideia de que o nosso, por força, vem de fora, e nunca é genuíno e gerador.
Evidentemente sempre tem de vir de fora: mater, mãe, mai, nai.
E de fora virá, pois as culturas nom som estancas.
Mas quero deixar o pensamento provinciano e de súbdito, "pobrinho de mim", à parte, e ir na busca da nai desde nós.
Pois outros falares referem-se à nai com ene:
Turco: Anne, Ana.
Húngaro: Anya.
Albanês: Mëmë; Nënë.
Cebuano:Inahan, Nanay.
Ilongo ou hiligaynon: Iloy, Nanay, Nay.
Indonês: Induk, Ibu, Biang, Nyokap.
Azeri: Ana.
Checheno: Nana.
Malagasi: Reny.
Saami: Eadni.
Samoano: Tina.

Coincidência de que a mãe da virgem Maria era de nome Ana, como no falar da Anatólia, no turco?
A Deusa oriental Anat andou dumha parte para outra. Na cultura ugarit, na egípcia identificada com Neith, na mesopotâmica ao lado de Astarté.
Aparece como Hannahannan, (nai de nais) na cultura hurrian ou khurrites, tamém da Mesopotâmia.
Na hebreia como nome de mulher, e com suspeitas de ter sido Iavé consorte dela, no par Anat-Yahu.
Na antiga Síria Anat, deusa do lume.

Na Anatólia, ἀνατολάς, a palavra Ana explode em significados, e nesse lugar aprendo que as anátidas andam por perto da nai.
Anate, anas dum proto indo-europeu *anatis, com relaçom no sânscrito com atis e antis.
Nas línguas germânicas ende, êider.
No grego ático netta, grego nessa.
Na cultura egípcia, na escritura hieroglífica, o símbolo para filho ou filha é um ánade, autores afirmam que isto é um fonograma que ambos se pronunciavam igual; para escrever filho desenhava-se um "Z" que soava igual.
A coincidência entre filho e ansar, volta a aparecer algo mais distante na proximidade entre anas, aneta, e nepta.
No grego nessa tem a ver com nao e neo, co navegar. Voltamos à auga do nascer, da anátida.
Na cultura grega clássica pode estar nai na raiz da deusa Atena, Athana.
Ἄτη, é a deusa das trasnadas?, talvez deusa primeira e ao vir a Ana quedou em segundo plano, como ocorre noutros encontros de culturas, onde os antigos deuses passam a ser deusezinhos menores frente à novas crenças?
At pode ser lume ou pode ser nai, At-ana, a nai do lume, ou a nai da nai?
Neith, Naith foi nome dórico (na Esparta) para referir-se a Atena.
Neith, Nit é umha divindade egípcia antiga que foi mudando, num começo foi deusa escaravelha, depois caçadora, e logo inventora.
No império antigo era umha abelha protectora do faraó.
No império novo foi deusa geradora andrógina que com (sete palavras), sete frechas formou o universo, auto-concebida, mãe, mai, nai original.
Deusa funerária tamém, recebeu o nome de Dama de Ocidente.
Também a deusa Nut anda-lhe perto.
Há umha relaçom entre a nutriçom e a natura; a nutrure (eng.) nourishment, nourriture (fr.)
Entre nutritia e natura.

E já no catolicismo apostólico romano que volta a aparecer como Santa Ana:
Na cadea de deidades do oriente próximo Ana está sempre relacionada com a deusa antiga ou a nai da deusa, por isso a nai da virge Maria, da virge mar, da virge meira dos meirós, da virge madre, da virge mãe, nom pode ser outra que Ana.
A celebraçom do seu santo é num dia assinalado, o 26 de Julho.
Tamém no catolicismo "ana" está na triste palavra Anatema, para referirem-se à excomunhom, pois ana-thema é o louvor a adoraçom de Ana; no seu altarzinho os anatemos e anatemas deixavam flores à nai das nais.
ἀνάθημα, anathima, ofrenda votiva, ornamento e logo depois ἀνάθεμα, anathema, algo detestável, maldito.
Outros indicam que anatema, está formado por ana-tema, cousa posta aparte. Pois as ofrendas proibidas eram apartadas dos altares. Mas a existência de ἀνάθημα é prévia ao cristianismo excluidor ...

Desta raiz anat- ou nat-, temos palavras de muita força e significaçom, assi:
Natura: provem do particípio futuro de natus, aquela que gerará, a que é para o nascimento, a que é para a naçom.
Nato, nado, vem de gnato, genato, gerado, gente som da família, dum suposto paleo-indo-europeu, *gn-, *gon-, *gan-, nascer, produzir, gerar.
Natrix, (serpe aquática), nata, nascida, e natatória por ser serpe que nada, "natriz".
Armênio nay molhado, líquido; grego notios húmido, e nao fluir; sânscrito snati banho; irlandês medieval snaim eu nado, e provavelmente tamém no grego nesos ilha dum *na-sos, literalemte "esse que nada".
Nauta nausea ....
Naias, Náiades, ninfas da mitologia grega, naiein fluir dum proto-indo-europeu *sna-, no latim nare nadar, sânscrito snauti pingas.
As mesmas naias entram em relaçom co nome de Atena, Atana, Atanaia.
Os rios Návia e Navea, os rios das naves, das naias.
Ναϊάδες, Ναϊάς ou Ναΐς, Naiades, Naias ou Nais, som seres dos rios, os seres fluentes. Dalgum jeito nesse fluir aquoso está o parto.
ναίω: morar, habitar, dar
As Nâvas aparecem nos livros antigos vedas como seres da auga.

Todo este enguedelhamento leva-me à ideia de nai / mãe como nave e auga, que tem esta restra de palavras:
Grego: nays.
Dórico: nas.
Sânscrito: naús.
Antigo persa: navi.
Armênio: naus.
Irlandês: nau, outras palavras para nau em irlandês som: naue noa noib nae noí noi naoi, nó, noé.
Antigo alemão: nawa.
Umha raiz indoeuropeia *snu- banhar, deu neo no grego, nascido.

Nai tem mais a ver com ideia de natureza?, mentres que mamãe dá umha ideia de alimentaçom?
Nai é dos genitais, enquanto mamá é dos seios?
Todo se revolve, pois a alimentaçom é nutriçom, e a nutriçom vem de Nut, da noz, e da Natura.

नय, Naya, no sânscrito dá estes adjetivos: correta, apta, atrativa, bela.
E नय, Naya, nomea: a sagacidade, a visom intuitiva, os princípios de conduta, o método, os passos, a máxima, a doutrina, a prudência, o comportamento, a conduta, o condutor ou a condutora, a conduçom, o plano, o desenho, o ensino, o guia, a líder ou o líder, a administraçom.
Temos no grego naiara; aquela que comanda
Naios, Νάϊος, é um nome, um epíteto de Zeus em Dodona, Dodona foi primeiramente templo oracular da deusa Diona, a posterior romana Diana (di-ana), duas vezes ana: A ursa. A que pare gêmeos?
Diona está perto da Dana céltica, do Danubio ....



Áne nÁne, nomes irlandeses para a deusa nai.


Das línguas próximas, o turco, o azeri, o checheno, fazem o nome de nai com a raiz ene: ana, anne, nana, respetivamente.
O húngaro: anya, (lido anha).
O albanês, também tem a variação m / n, mëmë / nënë como o galego nai / mãe.
A raiz ana é mui antiga, supostamente dum substrato velho, pois Ana e derivados é nome para deusas nai, e mesmo deusas avoas, ao ir-se superpondo cultos sobre cultos. Desde a Pérsia até a verde Eirim, Aine, Anat, Neith, Ath-ana, Di-ana, Santa Ana, (avoa do Cristo), Dana/Danu, Belt-aine....
Aine além de nome de deusa no gaélico, significa anciã.
Anumão / Anumã / Ana-manana...., poderia andar por aí, sendo pois Anu/Ana -mãe, ou (0).
Hipótese dum traslado do primitivo ana que por aqui deu nai, e posteriormente ao entrar outro estrato cultural, ficar ana como deusa-nai, ou deusa-antiga.
Saiba-se que a palavra Anátema, é literalmente a interdição de cultuar à deusa Ana, polo que a tal Ana deidade não é de tão longe.


Outra rota está representada pola palavra gaélica dairbe, criada, rapariga, com a forma próxima dairt, novela, bezerra de primeiro parto, e também mulher nova, com umas mutações semelhantes á de dair, (carvalha), dairt, dhairt, ndairt.
No inglês o rasto desta palavra está em dairy, que é um adjetivo que significa leiteira, láctea, com variantes como dery e dey, deja no sueco e deigja no islandês.
Esta camada de nuvela, moça criada, pessoa que moge..., tem uma raiz velha e significativa no gaélico escocês que é dàir, com o significado de parto, um parício concreto de uma vaca, e também significa andar quente, estar em cio a vaca, e montar na ideia de copular.

A rota do latim, ana entendida como a avoa primigênia, a nai da nai é a agnata, a anha, a a-gnata, a não nascida.
Costumados e costumadas estamos ao oculto do agnus, mas a agna, a anha, também tem muito que dizer.
Se o agnus é de Deus, a anha é da Deusa.
Estamos polo radical gnat-, que é o da generatione, do gerar, da genética, do genitus e do genital, do nascer, da natura, da nativa, da natividade, do nadal, da nata (1).



0. Anumã, Anumão, Ana-manana: Poderia ser Ana a dos Manes, Ana maneana.
Maneana, teria uma evolução a manana, mãã, e daí a mã.
Quem é Ana a maneana, ou Ana dos Manes?
A divindade feminina dos ancestres, quer dizer a nai dos ancestres mesmos. A avoa das avoas.
Na Roma cultuada na lapis Manalis.
Lapis Manalis que era usada como tampa de uma famosa grota de enterramento antiga ostium orci, e que também era usada como pedra de chuva, fazendo um ritual com ela.
Dizer que os tais espíritos manes, quer dizer filhos de Mana.
A ilha Mana, ou Mania, dizer que é a ilha dos ancestrais, e surpreendentemente duas ilhas levam esse nome em irlandês antigo, a ilha de Man e a ilha de Anglesey, em galês Ynys Môn.
Estamos no neolítico, na subida rápida do nível oceânico....
Mana, manai, nai?
Por aqui anda manar e o maná.
Uma palavra rechamante para ver o novelo do enguedelho da primária deusa, que cremos Maine, é a palavra gaélica maicanie, que significa progênie em sentido laxo, descendentes, filhos e filhas, família, tribo, (mac Aine).
Isto pode desbotar a teoria de ser Roma difusora de Mana e dos cultos aos manes, lemures, lemures que é uma palavra céltica (?) le-mur, le-mors, as mortas avoas, nais (?).
Moir em manquês é nai.
Então nos contos das moiras/mouras estámo-nos a falar das nais manes, das avoas ancestrais.
No antigo gaélico moírb, máirm; mairb; marb, mart, mairt, marta, põe algo mais de claridade no assunto?
De como a nai no idioma antigo passa a dar nome a nais ancestrais enterradas, às avoas?
Ou as mouras e mouros derivam do radical para a morte no proto-celta:  *marwo-, dum proto-indo-europeu  *mr̥wó-, *mr̥wós / *mrtos?
Também o mar céltico anda por cá, no gaélico irlandês antigo muir, no manês mooir, no galês môr....
Línguas nas que a mãe, o mar e a morte se  juntam.

Na Roma havia um culto aos Manes e outro culto aos mortos chamado de parentalia, aqui estamos cultuando separadamente as duas linhagens.



1. a etimologia para a nata, como tona do leite, não é achada facilmente, aqui a ideia deixada é que nata apenas significa o que claramente dia, nata é a nascida.
O leite é deixado em repouso, melhor em frio, e dele nasce uma camada, que é nata do leite, mesmamente a crema é chamada de flor do leite.
Outros nomes da nata, além de tona são: nazorra, natriza, escol, laço, capela, cabeço...
É para atendermos mais a nazorra e natriza e ver como o nascer está na sua raiz.
Nas falas asturianas além de la nata, temos el natu para a tona do leite.

Nanny, é a cuidadora dos nenos e das nenas, também é nome para a avoa.
Outra vez, nanny pudo ser nome para a nai, posteriormente passado para segundas nais.
Nanny tem claramente relação com nonna, que na Roma era a madre religiosa.
No galego temos nana, como nome para a avoa, ou para uma mulher casada de idade, além do canto de berço.

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